Há exatamente 75 anos, no dia 6 de junho de 1944, as tropas aliadas compostas pelos exércitos dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e Canadá, desembarcaram nas praias da Normandia, na costa francesa, em um grande passo para dar fim a II Grande Guerra Mundial. Um exército composto por 155 mil homens na maior operação militar aeronaval da história. Foi o chamado Dia D, o dia decisivo que daria o início do fim da II Grande Guerra Mundial iniciada em 1939 com a invasão dos nazistas, comandada por Hitler, à Polônia.
Ao mesmo tempo, no leste europeu, a Rússia iniciou uma grande ofensiva contra os alemães arrasando com tudo. Depois disso, marcharam para expulsar os nazistas e logo alcançar a fronteira alemã. Talvez muitos da geração atual não têm a mínima ideia sobre esse fato e até mesmo sobre os horrores desta guerra, principalmente com respeito ao holocausto sofrido pelos judeus, também orquestrado por Hitler.
Mas, o Dia D foi o grande passo para dar fim a uma das piores guerras da humanidade e a derrocada do III Reich que, de acordo com a loucura de Hitler, iria durar mil anos. Onze meses depois os nazistas se rendiam, o mesmo acontecendo alguns meses depois com seu aliado, o Japão. Muita coisa ainda pode ser contada sobre este esta guerra e este episódio, mas fica para depois.
Hoje quero falar sobre outro personagem que foi tão amado quanto odiado e entrou na onda de Hitler, o italiano Mussolini. Carismático, orador persuasivo, sedento de poder e sedutor. Este é o perfil do homem que aos 39 anos já era primeiro ministro da Itália, também apelidado de Duce (guia).
A Emilia-Romagna, uma das mais belas regiões da Itália sempre foi conhecida como uma região tipicamente rural, mas também conhecida como o principal centro de extrema-esquerda do país e neste ambiente conturbado, em 1883 em Dovia de Predapio, nasceu Benito Mussolini, filho de um taberneiro e uma professora de aldeia. Foi na cidade de Forli, onde o pai abriu uma taberna e onde se reuniam os revolucionários da região, que o garoto rebelde começou seu fascínio pela política.
Entrou na escola em Predápio e depois, por insistência da mãe, foi mandado para uma escola de padres salesianos em Faenza até ser expulso por conta de uma briga. Entrou para a Real Escola Normal de Forlimpopoli onde se formou para professor com as melhores notas de sua turma. Nesta época já escrevia artigos políticos para os jornais de Forli e Ravena. Após lecionar em uma pequena cidade e brigar com o chefe do conselho, ele emigra para a Suíça sem fazer o serviço militar, sendo acusado de desertor.
Passando por várias dificuldades se juntou a outros refugiados políticos e chegou a frequentar a Universidade de Lausanne. Sempre ligado ao movimento socialista, foi expulso da cidade passando para o lado francês na cidade de Annemasse onde trabalhou como operário e tornou-se amante da mulher do prefeito, em seguida partiu para a Alemanha ficando fascinado pela disciplina alemã.
Quando, em 1904, um decreto real italiano anistiava os desertores que se apresentassem para o serviço militar, ele retorna à Itália e ali começa sua ascensão. Além de professor, lança-se na carreira jornalística que lhe abriu caminho para a fama. Crítico ferrenho da igreja católica, foi o bastante para acabar com sua carreira, mas sua fama foi crescendo até receber um convite para um cargo na Câmara de Trabalho, na época um território austríaco. Mais uma vez expulso da cidade por suas tendências políticas.
Com a fama já consolidada, foi eleito para o cargo de secretário do Partido Socialista de Forli, época que conheceu a jovem de 16 anos, Raquel Guidi, com a qual veio a se casar. Quando a Itália entrou na Primeira Guerra e pelo fato de dar apoio ao militarismo, foi expulso do partido.
Começa, então, a época fascista. Em 1919, ele oficialmente funda o partido com o nome de Fasci. Com a simpatia do exército e já idolatrado pelo povo, conseguiu as graças do rei Vitor Emanuel III que o nomeou primeiro ministro da Itália. De 1923 a 1925 foi eliminando todos seus adversários até que finalmente criou uma ditadura tendo o fascismo como doutrina, sendo ele o ser supremo. Em 1935 alguns reveses políticos, entre eles a guerra da Etiópia, o levaram a se aproximar da Alemanha e de Hitler, formando em 1936 o eixo Roma-Berlim.
Sua entrada na Segunda Guerra em 1940 como aliado de Hitler, foi um fato inevitável. Vieram os fracassos militares e um grupo de oposição com o apoio do rei destituíram Mussolini. Preso, foi libertado numa ousada missão de paraquedistas alemães. Cansado e desiludido tornara-se apenas uma sombra do que era e formou a República de Saló que não passava de um quimérico poder, sendo ele um fantoche nas mãos dos nazistas. Quando os alemães foram expulsos da Itália, ele foi convencido a fugir vestindo um capote e um capacete alemão, mas foi reconhecido e preso pelos partigiani (Resistência Italiana).
Após sua prisão, o Duce foi sumariamente executado com uma metralhadora, em 28 de abril de 1945, juntamente com sua amante e mulher de sua vida, Clara Petacci. Os corpos foram levados para Milão, pendurados em uma trave de cabeças para baixo no Piazzale Loreto onde, antes idolatrado, uma multidão cuspiu, chutou e até urinou nos corpos.
Fato este presenciado pelo meu tio Adhemar, na época oficial do exército brasileiro aliado e, segundo ele, muito deprimente. À noite, o corpo de Mussolini foi enterrado secretamente em Milão e, 12 anos mais tarde, entregue a família e enterrado no Cemitério de São Cassiano, em Pedrápio, onde já estava seu filho Bruno.
Neste local, onde estive, também estão protegidos por um grosso vidro, as roupas ensanguentadas e o vistoso chapéu de Mussolini.