Comemoramos no dia 7 de setembro mais um aniversário de nossa Independência, mas muitas águas rolaram antes desse dia no ano de 1822. Muita coisa que a história prefere ignorar. Tudo começou quando da vinda de toda corte portuguesa para o Brasil colônia fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte que invadiam Portugal. Tudo por causa de um tal Bloqueio Continental imposto pelo rei da França em luta contra a Inglaterra e que foi desobedecido por D. João, príncipe regente de Portugal, pois a rainha sua mãe enlouquecera.
Assim, sem nenhuma condição de enfrentar as tropas napoleônicas, em 29 de novembro de 1807, D. João e toda sua corte fugiram para o Brasil em vários navios, de forma nada heroica. Os fujões deixaram o porto debaixo de vaias da população de Lisboa e com a proteção da marinha de Inglaterra, país com que fez um acordo de abrir os portos brasileiros para os navios ingleses. Além de D. João, a comitiva vinha com sua mãe D. Maria, a rainha louca, D. Maria Isabel, outras parentes nobres e o menino Pedro, o futuro imperador do Brasil.
Ah, este pequeno príncipe iria dar muito para falar. Sua infância foi tão tumultuada como sua vida. Sua maior diversão era dar socos nos queixos dos outros garotos que vinham beijar sua mão. Mas, não se vangloriava de seu título. Como qualquer garoto da época, gostava de brincar com os pobres plebeus, ficar horas em meio aos escravos e, principalmente, beliscar as escravas. Desde pequenino já aprontava. Mesmo com vários tutores a seu lado preparando-o para ser sucessor de seu pai, o que ele gostava mesmo era de ficar com o povão. Tudo isto não agradava a corte que implicava até com seu modo de vestir.
Bem, todos nós sabemos que sua maior façanha foi ter declarado a Independência do Brasil, mas na realidade o que lhe deu mesmo fama foi o título de maior garanhão do Império. Desde os seus 18 anos o príncipe já era famoso por suas conquistas. Em sua curta vida constam mais de vinte amantes, sendo que a mais famosa foi Domitila de Castro, a tal Marquesa de Santos. As nobres moçoilas de outras cortes, consideravam D. Pedro um “gato”. Aliás, na verdade, em meio a tanta feiura na casa real de Bragança, era ele o único que se salvava.
Mas, vamos ao que interessa, pois já estava na hora de arrumarem uma noiva nobre para o jovem namorador. Em meio a interesses reais e políticos a escolhida foi a jovem princesa Leopoldina Carolina, de 18 anos, filha do Imperador Francisco I, o líder do Império Austro-Húngaro, uma grande potência na época. Como era comum na época, este foi um casamento de conveniência da dinastia Hasburgo da Áustria que queria uma ligação com todas as dinastias europeias, com a esperança de que ela seria rainha de Portugal. Ela foi uma moeda de troca, num jogo de poder.
Um casal com grande diferença de personalidades. Ela uma jovem refinada e com excelente educação. Entre seus amigos constavam o poeta alemão Johann W. Goethe e o compositor austríaco Franz Schubert. Já o nosso Pedro, gostava mesmo de estar com seus amigos de origem simples, andar a cavalo e assediar as donzelas da corte ou não. Mas, mesmo assim quando Leopoldina encontrou com D. Pedro pela primeira vez ficou “gamadinha”.
Segundo historiadores ela descreveu em uma carta o que aconteceu na primeira refeição entre eles: “Conduziu-me ao salão de jantar, puxou a cadeira e, enquanto comíamos, piscou-me o olho e enlaçou a perna dele na minha debaixo da mesa”. Era mesmo danado esse príncipe, uma versão real de Cinquenta Tons de Cinza. Em meio as suas aventuras, D. Pedro é nomeado Príncipe-Regente, pois D. João havia retornado para Portugal em 1820. Bem, aí acontece como todos conhecem o tal Dia do Fico, até chegar ao famoso brado da Independência.
- Pedro tinha dado mais uma de suas famosas escapadinhas. Enquanto isso, D. Leopoldina, que havia assumido a regência, recebe uma carta de Portugal exigindo a volta de D. Pedro. Percebendo a tramoia dos portugueses para que o Brasil perdesse seu status de Reino Unido e voltasse a ser colônia, ela não perde tempo e assina o Decreto da Independência do Brasil em 2 de setembro de1822. Em seguida, juntamente com José Bonifácio, escreve uma carta para D. Pedro explicando a situação e dizendo que era o momento certo de romper com Portugal.
Nessa altura, segundo os fofoqueiros da corte, D. Pedro estava na casa da amante, a famosa Marquesa de Santos. Imediatamente inicia sua viagem para São Paulo. No caminho, segundo alguns historiadores, D. Pedro não parou perto do riacho do Ipiranga para dar o brado da Independência. Ele fez um pit-stop porque estava com uma tremenda diarreia e, sem nenhum protocolo, teve que apelar para o mato. Depois, como já tinha se aliviado, resolveu gritar a célebre frase histórica “Independência ou Morte” por ali mesmo, sem grandes aparatos ou romantismo. Para dar fim a essa história, dizem que um chá de goiabeira acabou com o perrengue do imperador que logo se recuperou para seguir viagem já como o grande herói de nossa Independência.
Mas, pensam que foi só isto? Dizem que o Brasil teve que pagar 2 milhões de libras a Portugal por conta da independência. Portanto, na verdade D. Leopoldina foi a articuladora de nossa Independência. Em seguida o Brasil virou uma monarquia com a coroação de D. Pedro I. Quanto a sua vida conjugal, esta foi um desastre. D. Pedro chegou ao descaramento de colocar sua amante, Domitila de Castro, nomeada por ele Marquesa de Santos, juntamente com a família, bem perto do Palácio de São Cristóvão. Recentemente, durante uma reforma em um prédio da Glória, foi descoberto um caminho que ele usava para chegar ao casarão da marquesa. E, enquanto isso, sua adorável mulher D. Leopoldina, pensava que ele estava rezando.
Mas, a história não teve aquele final onde todos foram felizes para sempre. A começar que esta Independência não foi lá um mar de rosas. Apenas Rio de Janeiro e São Paulo aceitaram numa boa as ordens de Dom Pedro. Nos demais estados aconteceram confrontos que resultaram na guerra da Independência que se prolongou por 21 meses e onde morreram mais de duas mil pessoas. Também houve mais confusão quando o governo tomou os bens dos portugueses que não aceitavam a Independência e estes foram “convidados” a sair do Brasil. Tudo isto levou o Brasil a dobrar a inflação e com uma dívida externa enorme. Para completar, em 1828, houve a derrota na Guerra Cisplatina resultando na perda do território do Uruguai.
Com tudo isto, o prestígio de D. Pedro I despencou e com a tal crise por conta da dissolução do Ministério, nosso D. Pedro I abdicou deixando em seu lugar o filho de apenas 5 anos, D. Pedro II. O tutor do garoto foi um dos patronos da Independência, José Bonifácio. Bem, isto é outra história.