Leonardo da Vinci, o italiano considerado um dos maiores gênios na história da Renascença, autor de um dos quadros mais famosos e caros do mundo, a Mona Lisa, tinha lá suas manias. E como a maioria dos gênios, tinha um temperamento instável e uma incrível criatividade, se projetando como pintor, escultor, desenhista, engenheiro, inventor, astrônomo, matemático e tantas outras profissões.
Mas, como nem tudo é tão perfeito, um de seus dons não deu muito certo. Tudo começou quando Leonardo se embrenhou no campo da culinária, o que lhe valeu grandes problemas. Esta vocação foi despertada aos dez anos quando sua mãe se casou com um confeiteiro e, então, foi-lhe desvendado os encantos da culinária.
Quando completou 14 anos, já demonstrando um enorme talento para a pintura foi enviado a Firenze para estudar no ateliê de Verrocchio, também pintor e escultor. Com uma mesada irrisória e querendo ganhar mais dinheiro, Leonardo arranjou um emprego de garção em uma taberna ao lado da Ponte Vecchio. Estranhamente, os cozinheiros do local morreram envenenados e ele foi nomeado cozinheiro.
Enquanto se aperfeiçoava na pintura e na escultura, Leonardo também começou a usar toda sua criatividade nesta sua nova profissão, substituindo as refeições grosseiras ali servidas, por pratos mais requintados. Foi um fracasso total, pois os frequentadores do local queriam quantidade e não qualidade.
Quando o local foi destruído por um incêndio, Leonardo em sociedade com Sandro Boticelli, que também estudava no ateliê, abriu seu próprio restaurante, Osteria delle Tre Rane (Taverna das Três Rãs). Este também teve vida curta, pois a clientela não gostou de sua cozinha requintada e nem do modo como era apresentado o cardápio: escrito ao contrário podendo ser lido apenas com a ajuda de um espelho.
Desiludido, Leonardo partiu para Milão, oferecendo para o duque Ludovico Sforza, o Mouro, seus serviços como engenheiro militar e de pintor e escultor. Caindo nas graças do duque, além dessas funções, ele também foi nomeado mestre de cerimônias do palácio, escolhendo e executando os pratos a serem servidos nos banquetes e organizando divertimentos para a corte.
Bem, conta a história que quando do casamento do duque com Beatriz d’Este, Leonardo usando e abusando de seu talento criativo, decidiu a criação de um gigantesco bolo com o formato do palácio ducal, onde sob o mesmo passariam os convidados. Convocou centenas de auxiliares e deu início a sua obra.
Leonardo, porém, esqueceu de um pequeno detalhe, os ratos que abundavam na região resolveram participar da festa e na noite anterior ao casamento invadiram o local e atacaram o bolo. Foi um “Deus nos acuda”, seus auxiliares foram chamados para defender a monumental obra, mas, com as pauladas destinadas aos roedores, grande parte do bolo foi destruída estragando a festa.
Irritado com o fato, o Duque o enviou para o convento de Santa Maria della Grazie onde, em um mural do mesmo, ele deu início em uma de suas obras mais reproduzidas: A Última Ceia. Como diz o ditado “a males que vêm para o bem”.
Mas, Leonardo não parou por aí. Em uma de suas fases criativas, inventou a máquina de fazer espaguetes, o saca-rolhas, o garfo, o picador de alho e até o guardanapo. Se não fosse por isso tudo, que seria de nós? Como estaríamos limpando a boca ou comendo espaguete?
Em um de seus relatórios ele escreveu: “eu pensava em unir a carne ao pão, mas como posso denominar este prato?” Resumindo, ele também foi o precursor do sanduíche. No Código Romanov, escrito por ele, que está exposto no Museu Hermitage, em São Petesburgo, escreveu algumas regras que deveriam ser seguidas durante as refeições: não colocar os pés sobre a mesa, não enfiar o dedo no nariz, não limpar a boca na manga da camisa e não cuspir no prato a comida mastigada.
Apesar da polêmica sobre a autenticidade deste Código, não restam dúvidas que Leonardo, além de fino e elegante, era um homem muito à frente de seu tempo. Seu estilo incomparável, usando o “sfumato”, meia-luz de uma leveza incrível que envolve seus quadros poeticamente, é sua marca registrada.
Felizmente tive a grande oportunidade de poder admirar sua Mona Lisa, exposta no Museu do Louvre em Paris.
Lembrando, Leonardo nunca parou com sua tendência para a culinária. Quando foi morar no Castelo de Cloux, na França, contratou um cozinheiro particular ao qual ensinava suas sofisticadas receitas.