Com seus romances, muitas gerações de adolescentes embarcaram nas asas da imaginação e viajaram no tempo para se tornarem, como é chamado nos dias atuais, “avatares” de D’Artagnan, ou de seus fiéis amigos Athos, Porthos e Aramis: Os Três Mosqueteiros.
Qualquer cabo de vassoura se transformava em espada e pedaços de panos rotos viravam capas e assim, a fantasia os transformavam nesses heróis sem armas sofisticadas, roupas ridículas ou superpoderes. Então, repetiam a famosa frase dos mosqueteiros: “Um por todos, todos por um”. Como era belo sonhar.
É uma pena que a juventude de hoje não pratique o hábito da leitura, mas com certeza deve conhecer as aventuras desses heróis, graças ao cinema que não se cansa de filmar e refilmar algumas das obras de Alexandre Dumas. Romancista e dramaturgo francês do século 19 foi um dos escritores mais cultuados com seus romances de capa e espada.
Os Três Mosqueteiros, um de seus romances mais conhecidos, será sempre uma referência de amizade e fidelidade. Sem falar de Edmond Dantès, o romântico personagem de O Conde de Monte Cristo. Mas, vamos falar do autor de tantas fantásticas aventuras.
Alexandre Dumas nasceu em 1802 em Villers-Cotterêt, neto de um nobre francês que quando serviu o exército em Santo Domingo, casou-se com uma negra descendente de escravos. Seu pai foi general do exército na época de Napoleão. Sua aparência não era das mais belas, tinha a pele azeitonada, lábios grossos e cabelos bem crespos. Mas, tudo isso em conjunto deu-lhe um charme especial. As mulheres se encantavam com esta sua descendência crioula e nunca lhe faltaram amantes. Dumas dizia sobre isto que precisava de várias “acompanhantes”, pois se tivesse apenas uma, esta morreria no prazo de uma semana.
Ele teve uma educação pobre. Perdeu o pai quando tinha apenas três anos de idade e, mesmo assim, conseguiu se tornar um dos escritores mais admirados de sua época. Aos vinte e três anos enfrentou seu primeiro duelo e, apesar de não se ferir seriamente, suas calças caíram durante a disputa. O resultado desse episódio fez com que ele levasse para suas obras as emoções dessas lutas. Através de sua amizade com Louis-Phillippe, futuro rei da França, conseguiu trabalho e foi por ele introduzido na sociedade parisiense.
Com cerca de vinte anos foi morar com Catherine Labay, uma modista de 30 anos com a qual teve um filho que recebeu seu nome e também se tornou um escritor famoso. Devido ao mesmo nome e a mesma profissão, para distinguir um do outro, ficaram conhecidos como Alexandre Dumas Pai e Alexandre Dumas Filho.
Dumas Pai era um terrível mulherengo, grande boêmio, adorava se destacar e ser o centro das atenções e sabia como entreter as pessoas.
Com o sucesso de Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, abandona Catherine e constrói uma mansão a qual deu o nome de Monte Cristo, que passou a ser abrigo de artistas, escritores pobres e muitas atrizes, isto graças à sua generosidade. Chegou a casar com uma dessas atrizes.
Um dos fatos interessantes sobre sua “generosidade” foi quando ao encontrar seu grande amigo Roger de Beauvoir na cama com sua mulher ele apenas lhe diz: “A noite está muito fria, chegue para lá e me dê lugar”. O fato foi relatado pelo próprio Beauvoir para os amigos complementando que na manhã seguinte Dumas lhe apertou a mão dizendo que dois amigos nunca deveriam discutir por causa de uma mulher, mesmo sendo a legítima.
Possuidor de uma personalidade impulsiva sempre tinha uma resposta pronta para qualquer situação. Apesar de seu grande sucesso, Dumas sofreu muito por ser mulato. Uma vez, ao ser ofendido por causa de sua descendência negra respondeu: “Cavaleiro, meu pai era mulato, minha avó era negra e meu bisavós macacos e meu pedigree começa onde termina o seu”.
Dumas teve uma intensa vida amorosa. Viajava muito e participou de fatos políticos ao lado de Garibaldi. Era grande amigo do dramaturgo francês Victor Hugo e seu grande inimigo era Balzac, que não aceitava o liberalismo de Dumas. Outra coisa que não suportava era a avareza. Certa vez, quando estava em companhia de um rico banqueiro e este deu apenas 50 centavos de gorjeta ao rapaz da chapelaria, ele lhe entrega uma nota de 100 francos. O rapaz espantado lhe diz que ele cometera um engano e, então, Dumas responde “Foi o outro cavaleiro que se enganou”.
Alexandre Dumas morreu em 1870, aos 68 anos, completamente endividado. Seu filho teve que resgatar os direitos de seus livros que estavam em mãos de credores. Dumas recebeu reconhecimento póstumo na Franças apenas em 2002. Seu corpo foi exumado e sob o comando do presidente francês Jacques Chirard, seu novo caixão foi carregado por quatro homens vestidos como Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, foi levado em um solene procissão até o Panteão de Paris, o grande mausoléu onde estão sepultados grandes filósofos e escritores franceses como Voltaire e Victor Hugo. Tudo transmitido pela TV francesa. Em seu discurso o presidente francês reconheceu que Dumas não foi anteriormente ali sepultado por conta de um estúpido racismo.
Sem dúvida, sua vida foi tão cheia de aventuras quanto a de seus personagens e tão emocionante quanto as suas narrativas.