Atualmente este é o assunto mais discutido em todas a áreas de conversação, uns a favor e outros contra a vacinação para conter este vírus que assola a humanidade de maneira cruel, o Covid.
A história sobre a saúde pública do Brasil mostra que sempre houve contestações às vacinas desde as primeiras campanhas de vacinação lançadas por aqui. As primeiras referências no uso de vacina no corpo humano datam do século 10. Sabem onde? Justamente na “culpada” por infectar e espalhar pelo mundo este vírus terrível, a China.
Durante uma epidemia de varíola naquela país, os chineses usaram um método bem “artesanal” para tentar eliminar a doença. Eles trituravam as cascas das feridas causadas pela doença e sopravam o pó do vírus morto diretamente nos rostos das pessoas.
Mas, o termo vacina surgiu de uma homenagem que o cientista francês Louis Pasteur prestou para o médico e cientista inglês Edward Jenner. Nos idos de 1798, Jenner ouviu comentários que os trabalhadores da zona rural do país não eram contaminados pela varíola, pois já tinham tido a varíola bovina de efeito bem mais leve no corpo humano.
Jenner fez então uma bem sucedida experiência: ele aplicou os dois vírus, o da varíola e o da varíola bovina, em um garoto de oito anos e teve a confirmação de que realmente havia uma base científica nos relatos.
Em 1881, Pasteur deu início a uma segunda geração de vacinas para o combate da cólera aviária e o carbúnculo e sugeriu batizar sua recém-criada substância de “vacina”, em homenagem a Jenner. Assim, a palavra vacina deriva do nome científico dado à varíola bovina, Variolae vaccinae. Foi a partir dessas experiências que as vacinas começaram a ser produzidas e se tornaram uma das maiores armas no combate de várias doenças ao redor do mundo.
O incrível é que mesmo com todos os estudos e provas científicas, as pessoas ainda relutam em se vacinar ou aos filhos, mesmo a doença sendo perigosa ou altamente contagiosa. Temos o exemplo acontecido no início do século 20, em 1904, no Rio de Janeiro quando da primeira campanha de vacinação lançada pelo governo federal, resultando na histórica Revolta da Vacina.
Tudo aconteceu por conta da febre amarela que tomou conta da cidade e se propagava para o resto do país. Apesar de ser na época a capital do país, o governo do Rio de Janeiro lutava contra vários problemas na cidade. O lixo se acumulava nas ruas e rede de água e esgoto era precária.
Como diz o velho ditado, “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Apesar de seus encantos de “cidade maravilhosa”, mostrava outra realidade. Com a proliferação de ratos e mosquitos transmissores de doenças por conta do lixo acumulado nas ruas, epidemias como a peste bubônica e febre amarela, eram comuns na cidade, além da varíola e a tuberculose.
Na época, Rodrigues Alves era o presidente da república e nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito. Na tentativa de minimizar a calamitosa situação, decidiram fazer uma modernização na cidade demolindo tudo que vinha pela frente, inclusive velhos casarões, dando espaço para novas e largas avenidas.
Logo o carioca batizou esta reforma de “bota abaixo” por conta da demolição que corria solta por toda cidade. Como sempre, quem sofreu com esta modernização foi a classe pobre da cidade que foi desalojada por ter seus cortiços e casebres destruídos e forçada a buscar moradias longe do trabalho, buscando abrigo nos morros. O resultado foi o grande e desordenado aumento de favelas.
Além disso, os aluguéis foram as alturas. Para completar a reforma urbana, contrataram o médico sanitarista Oswaldo Cruz para assumir a Direção Geral da Saúde Pública. O médico iniciou então, uma campanha para limpar a cidade espalhando inseticidas pelas ruas e obrigando a população a recolher seu lixo.
Com o intuito de acabar com a varíola, logo lançou seu grande projeto de vacinação em massa. Oswaldo Cruz convenceu os congressistas a aprovação da lei da Vacina Obrigatória para todo brasileiro a partir de seis meses de idade. As brigadas sanitárias, completamente despreparadas, podiam entrar nas casas usando, quando necessário, da truculência e força policial. Foi um caos.
A população sem nenhuma informação correta sobre o que era a vacina e sofrendo com os últimos acontecimentos, se revoltava. Não queria um líquido estranho dentro do corpo. Assim como agora, também não faltaram as “fake news”, entre elas que a vacina seria aplicada nas partes íntimas do corpo e que as mulheres deveriam ficar nuas diante dos vacinadores.
Outro fato absurdo, mas real, foi o anúncio do governo dizendo que pagaria a quem entregasse ratos mortos às autoridades. Resultado, teve gente que começou a criar ratos para garantir um extra. Diante disso, o “prêmio” foi cancelado.
Resumindo, a campanha continuava de forma autoritária, invadindo casas e tratando as pessoas sem nenhum respeito. Oswaldo Cruz era severamente criticado e vítima de muitos “memes” nos jornais. Pior ainda, o atestado de vacinação era documento obrigatório para tudo, casamento, emprego, matrícula em escolas e tudoo mais.
Enquanto isso, agitadores incitavam a população a enfrentar os funcionários da saúde pública que vacinavam o povo na marra. A revolta se generalizou e entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904 e a população insatisfeita com os despejos e com as invasões arbitrárias de suas casas, contando com apoio de políticos, de militares, da imprensa e dos opositores, saiu na paulada enfrentando os agentes da saúde e a polícia. Foi um salve-se quem puder.
O centro do Rio se transformou numa zona de guerra com prédios depredados e bondes derrubados. Nada ficou em pé. O governo conseguiu dominar a “batalha” que resultou em 30 mortos e centenas de feridos e com várias pessoas presas e deportadas para o Acre.
Porém, imediatamente após tudo isto, a Lei da Vacina Obrigatória foi modificada e seu uso foi tornado facultativo. Tudo isto podia e pode ser evitado por falta de informação correta sobre a vacina. O grande problema são realmente as “fake news” sem nenhuma comprovação científica. Vejam o exemplo da poliomielite que foi controlada graças a campanha de vacinação.
A vacinação fica com a responsabilidade de cada um consigo mesmo, com a família e com o próximo. Pessoalmente, com certeza vou querer me vacinar, mas com a “VACINA”.