O minúsculo Estado do Vaticano, tido como um dos menores do mundo com seus 44 hectares e apenas mil habitantes fixos, tem o poder de chefiar mais de um bilhão de católicos espalhados pelo mundo. Localizado dentro da bela Roma que outrora foi capital de um grande império e terras cujas histórias marcaram épocas, ela acolhe o ponto mais tangível da religião católica: a Basílica do Vaticano.
O Papa, seu chefe supremo, exerce sua soberania com plenos poderes sendo uma das personalidades mais importante com participação direta ou indireta nos acontecimentos mundiais, independente de crença, raça ou sistema de governo.
Este pequenino estado chefiado pelo atual Papa Francisco, se tornou um estado independente do território italiano desde 11 de fevereiro de 1929, mediante o Tratado de Latrão, assinado entre Mussolini e um representante do Papa Pio XI. Mesmo assim, ninguém é cidadão nativo desse estado.
Um centro de arte e fé constituído apenas pela praça, a Basílica de São Pedro e o Palácio do Vaticano. Quem ordenou a construção da basílica antiga no século IV d.C foi Constantino, cujo reinado foi de 306 a.C a 337 d.C. A atual Basílica começou em 1506 e foi concluída em 1626.
A defesa do Estado do Vaticano é feita pela polícia italiana, mas a guarda responsável pela segurança do Papa desde 1506 é da Guarda Suíça. Esses soldados são escolhidos entre jovens suíços católicos de 19 a 30 anos, solteiros, com altura mínima de 1,74 m e dois anos de serviço militar prestados na Suíça.
Mamma mia... nas vezes que lá estive, pude verificar que também a maioria é de belos jovens. E nem mesmo esta íntegra Guarda Suíça escapou de um escândalo envolvendo um duplo assassinato e um suicídio. Triangulo amoroso, ciúmes profissionais ou outros motivos, foram enterrados com eles.
Uma visita a este “império”, não é tão complicada e prólogo desse espetáculo maravilhoso é a magnífica Piazza San Pietro. O acesso à basílica é livre entre um grande número de obras de arte, ali está a impressionante Pietá de Michelangelo.
Mas, o controle se diferencia e se torna mais rígido para algumas dependências consideradas mais privativas e com pagamento de taxas extras você pode admirar os Tesouros do Vaticano, as Catacumbas e a estupenda “Cúpula de Michelangelo” a 120 metros de altura projetada em 1547 por este gênio. Usando uma grande escadaria, ou mais confortavelmente por elevador, podemos chegar até ela e admirar toda sua magnitude.
De um grande terraço podemos apreciar um estupendo panorama: a Piazza San Pietro, todo o complexo da basílica e os jardins do Vaticano. Continuando até o topo, eis que repentinamente surge ante nossos olhos uma fantástica visão de Roma com todo seu fascínio.
No centro da praça ergue-se harmoniosamente o Obelisco Egípcio que foi tirado do circo de Nerone onde estava até 1586. O monumento fica no meio de duas belíssimas fontes, uma de Carlo Maderno (1614) e outra de Bernini (1667). Sem esquecer da maravilhosa Capela Sistina.
E como quem vai a Roma tem que ver o Papa, isto não é impossível. Todos os domingos ele aparece na janela da biblioteca do Vaticano para a benção de meio-dia, identificável por uma bandeira vermelha ali pendurada ou em outras ocasiões especiais quando desfila em seu papamóvel pela praça São Pedro.
Bem, tudo isto antes da pandemia. Mas, por trás de toda essa supremacia e imponência religiosa, se refugiando na proteção que a igreja católica recebe como instituição, esse pequeno e todo poderoso estado não está imune a escândalos (alguns bem conhecidos), fofocas e alguns “segredos”.
Em seu Arquivo Secreto (não tão secreto), além de vários tratados e correspondências trocadas ao longo dos séculos, encontram-se processos da Inquisição, incluindo a condenação de Galileu Galilei, o astrônomo que foi perseguido pela igreja católica por afirmar que a Terra girava em torno do sol. Para salvar sua pele e se livrar da morte, teve que renegar sua teoria.
Após centenas de anos, em 1992, o próprio Vaticano, por intermédio do Papa João Paulo II, reconheceu o grande erro desta perseguição. Também ali se encontra a vergonhosa anulação de casamento o rei Henrique VIII que resultou na separação da igreja da Inglaterra e a de Roma e também o processo de sua excomunhão. Outro “imbróglio” envolvendo a igreja medieval foi com Lucrécia Borgia. Filha ilegítima (ou legítima?) de Rodrigo Borgia, futuro Papa Alexandre VI, apesar de grávida do próprio irmão, César Borgia, o papa obrigou os clérigos a atestarem sua virgindade. E, em 1501, o Papa Alexandre foi dar um “relax” em Nápoles e deixou a tal filha Lucrécia tomando conta do trono papal. Esse “imbróglio” conto depois.
Também existe uma história, ou lenda, segundo um tipo de “influencer” do século 13, que houve uma papisa sim: Papisa Joana. Alguns textos da idade média citam uma mulher que, entre os anos 850 e 1100 d.C, teria ocupado o trono papal por 2 ou 3 anos contrariando as leis da Igreja Católica, no período entre os papas Leão IV e Benedito III.
A história, ou “fake”, relata que Joana, nascida na cidade de Mainz na Alemanha, se apaixonou por um monge e como estaria vivendo com ele, começou a se passar como homem, vestir roupas masculinas e adotou o nome de Johannes Angelicus. Como era dotada de grande inteligência, foi nomeada cardeal em Roma e depois eleita papa. Mas, sua vida amorosa continuou e ela engravidou. Durante uma procissão, em uma viela entre o Coliseu e a Igreja de São Clemente, ela entrou em trabalho de parto e deu à luz ali mesmo, causando um grande escândalo. Segundo a lenda, amarraram Joana em um cavalo, foi arrastada para fora de Roma e a apedrejada até sua morte. Fato ou “fake”, entre 1377 e 1404, todas a procissões papais evitavam o mesmo caminho feito por Joana.
A Santa Igreja também sabe perdoar e reconhecer sua “Mea Culpa”. O perdão mais recente, em 1996, foi dado a John Lennon, que no auge de sua carreira, afirmou que os Beatles eram mais conhecidos que Jesus Cristo. Foi perdoado pelo Vaticano. Assim como aconteceu com Galileu Galilei, em 1430, a jovem Joana D´Arc foi presa, julgada, condenada como herege e foi morta em uma fogueira. Novamente a igreja fez sua “mea culpa” e reconhecendo seu erro e em 1920, Joana D´Arc foi canonizada pelo então Papa Bento XV.
Mas, superando todos os deslizes de percurso, acima de tudo o Vaticano representa o centro espiritual da religião cristã. Sua imponência exige respeito e seu esplendor atrai multidões. Nas vezes que lá estive, tive a oportunidade de ver dois papas: quando de uma missa em frente a Basílica e outra no tradicional desfile no papamóvel. Confesso, é uma sensação inexplicável e sem conseguir conter uma emoção tamanha, saímos dali com a alma leve.