O cenário nos leva a uma atmosfera de mistério e romantismo. Em vez de ruas, canais, e em vez de carros, gôndolas. As negras gôndolas deslizando suavemente por de um emaranhado de becos e vielas que conservam os mistérios de épocas passadas e todo encantamento desta cidade, única no mundo. A velha “República Sereníssima”, prodígio de engenharia, a mágica Veneza que apesar das previsões, flutua elegantemente sobre o mar Adriático, ancorada majestosamente com todas suas características do século 15, quando ainda era o todo poderoso elo entre o Ocidente e Oriente.
Reconhecida pela Unesco como Patrimônio da Humanidade por sua riqueza em museus com coleções do egípcio, romano, ao neoclássico, completou 1.600 anos no dia 25 de março deste ano. A cidade que conseguiu vencer o mar é uma das favoritas para os amantes em lua de mel e para os apaixonados por cultura.
Tudo começou na Europa no século 5. O antes poderoso Império Romano caiu e hordas de bárbaros começam a invadir a Itália. Temendo pelo pior, os habitantes da região do Vêneto, sem ter para onde ir, buscam refúgio em pequenas ilhas que ficavam em uma laguna do Mar Adriático, no nordeste da Itália. Na época, o centro do poder ficava na cidade de Ravena, com acesso apenas por via marítima, o que favoreceu para o grande crescimento de Veneza de forma independente.
Já no século 7 a cidade começou a ser chamada de Sereníssima República de Veneza e seu crescimento econômico garantiu a independência da cidade. Situada em ponto estratégico do Mar Adriático, por ali passavam navios militares e comerciais. Este tráfico marítimo fez com que Veneza se tornasse rica e poderosa. Era ali que acontecia todo o comércio entre Ocidente e Oriente.
Veneza só começou a perder todo este domínio com a descoberta de novas rotas para o Oriente. Seu domínio dos mares terminou em 1796 quando Napoleão invadiu e dominou a região e passou o domínio da cidade para os austríacos. Em 1866, Veneza conseguiu se libertar e voltou a fazer parte do Reino da Itália.
Mas, a curiosidade maior é sobre como esta cidade flutuante continua firme até hoje sobre aqueles aterros sobre o mar construídos há 1600 anos. Para minha surpresa e a de todos, o que sustenta toda a cidade, inclusive a maravilhosa Praça São Marcos, são pilares de madeira milenares de 4 metros colocados embaixo da água. Tudo isso feito por conta da engenhosidade. A madeira não apodrece quando não está em contato com a atmosfera e oxigênio, pois ao contrário, resultaria em um processo de decomposição. Esses pilares são fixados em argila compactada, depois colocaram tábuas e blocos de pedras em cima. As pedras barram a passagem das águas permitindo a colocação de terra que foi tirada do fundo da lagoa em cima. Uma engenhosidade de mais de mil anos que encanta o mundo inteiro. Como nada entendo de engenharia, estou simplificando a explicação. Antigamente eram 65 ilhas, hoje são 119. Mas, que impressiona, impressiona.
E o que falar sobre a tradicional gôndola veneziana? Existem registros sobre a mesma desde 1600 quando era usada para transporte particular dos doges e da realeza. Com o tempo, sua estrutura foi se modificando e hoje é um barco estiloso, para deleite dos turistas. Quem não sonha em dar um passeio através dos canais silenciosos e desvendar toda a beleza desta cidade mágica? Mas, prepare o bolso, porque a diversão sai cara. Como diz meu irmão José Fernando: “quem converte não diverte”, vale a pena. Em uma gôndola é possível levar até seis pessoas para um passeio inesquecível.
Os charmosos e alegres gondoleiros com suas camisas listrada e chapeuzinho de palha, às vezes, até soltam as vozes conforme a gorjeta. Para conseguir licença de gondoleiro, todos passam por um processo de seleção rigoroso que envolve além dos aspectos técnicos de como guiar uma gôndola, devem fazer um curso sobre a história da cidade e saber falar pelo menos uma língua estrangeira. É uma tradição que passa de pai para filho.
Um passeio de gôndola normalmente dura 30 minutos e, antes da pandemia, custava 80 euros durante o dia, depois das 19h aumenta para 100 euros. Nem adiante pechinchar, é tabelado. A única maneira de economizar, é dividir com mais 4 pessoas ou apelar para os vaporettos, uma espécie de ônibus barco a motor, transporte popular da cidade. Apenas a Ponte della Libertà com quase 4 km de comprimento é usada para chegar de trem até à cidade. Nada ali é barato por conta do turismo em massa.
Veneza tem uma das maiores concentrações de obras de artes do mundo. Sua riqueza que data da maravilhosa Era de Ouro, continua ali presente através de monumentos como Basílica San Marco, Piazza San Marco, San Giorgio Maggiori, Torre dell´Orologio, Ponte dos Suspiros e tantos outros.
Veneza é muito mais que uma cidade, é o sonho de muitos, é pura magia e beleza... Parabéns Veneza, que continue a flutuar por muitos séculos ainda.