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“Sou um ribeirãopretano de Goiânia”

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Entrevista exclusiva com o chanceler do Brasil, Embaixador Carlos Alberto Franco França, para o Jornal da Vila

 

O Embaixador Carlos Alberto Franco França, de 57 anos, foi anunciado como Ministro das Relações Exteriores no dia 29 de março de 2021.

Até poucos meses atrás, França era o Chefe da Assessoria Especial do Presidente Jair Bolsonaro, cargo que assumiu após atuar por quase dois anos como Chefe do Cerimonial da Presidência da República, no Palácio do Planalto (desde o fim de 2018, quando organizou a solenidade de posse do então presidente eleito).

Ele nasceu em Goiânia, em 1964, e veio para Ribeirão Preto com quatro meses.

“Eu brinco com todo mundo que sou um ribeirãopretano de Goiânia. Apesar de ter nascido lá, minhas mais profundas raízes estão em Ribeirão Preto”, diz ele.

Quando José Nazareno Franco França e Maria Luiza Camarotto França, pais de Carlos Alberto, vieram para Ribeirão, foram morar na rua Luiz da Cunha, na Vila Tibério. Naquele quarteirão moravam tios e os avós maternos. Seu avô era o senhor Antônio Camarotto, que era dono do bar na esquina da Luiz da Cunha com a Castro Alves que tinha o nome de ‘Bar do Tio Camarotto’.

“Lembro de criança que naquela esquina tinha o Comind (Banco Comércio e Indústria) e os Irmãos Martins, uma grande loja de secos e molhados. Na outra esquina tinha o bar do meu tio Antenor”, e no meio do quarteirão o Bar do meu tio Olavo Guindalini, diz ele.

Na segunda metade da década de 60, a Antarctica funcionava a todo vapor. O movimento de operários e dos caminhoneiros, que vinham buscar cervejas e refrigerantes da fábrica, era intenso. O Bar do Tio Camarotto e o restaurante ao lado, do qual o ‘seu’ Antônio Camarotto foi sócio, tinham sempre muito movimento.

“Para mim era uma festa atravessar a rua em diagonal para ir à casa do meu avô. Muitas vezes, minha mãe me conta, eu manifestava vontade de ir dormir na casa do meu avô. Ela me levava, já com travesseiro embaixo do braço, e a minha avó Hermínia Pereira Camarotto me esperava do outro lado da rua. A casa deles ficava atrás do bar, era muito pequena, e quando eu ia para lá meu avô ia dormir na sala”, lembra rindo, o ministro.

O pessoal conta que o ‘seu’ Camarotto gostava de levar o neto, ainda garotinho, para ver o trem passar, na Castro Alves logo depois da Joaquim Nabuco.

“Meu avô foi uma figura central em minha vida. Eu tive muita sorte. Meu pai sempre foi muito empreendedor e a família da minha mãe sempre foi muito sólida. Tive em casa os dois exemplos, a âncora que era minha mãe e a alavanca que era o meu pai. A alavanca projeta e a âncora dá estabilidade. Eu tive essa sorte”, diz França.

A Luiz da Cunha era a principal rua do bairro, a única que tinha ligação direta com o Centro da Cidade e que teve mão dupla de trânsito até 1968, quando a antiga estação da Mogiana foi demolida e as ruas Martinico Prado e Santos Dumont foram ligadas às ruas General Osório e São Sebastião.

“Estudei no Sinhá Junqueira da primeira até a oitava série. Lembro da praça Coração de Maria, da banca do Fifi onde comprava gibis e trocava dois já lidos por um outro usado. Tenho boas recordações das matinês de domingo com filmes do Tarzan nos cines Marrocos e Vitória. Lembro do Lar Santana. Não esqueço do casal que vendia fogos de artifício na Luiz da Cunha quase no córrego, na divisa com o Sumarezinho, da padaria dos Crispim, do José Velloni, do amigo Ernani Bologna da Silveira, filho do contador Juvenil Silveira da Antártica, da loja de móveis Cauchick, do Foto Murakami. Tirei muitas fotos 3x4 no estúdio dele na Luiz da Cunha”, conta o ministro.

 

TRABALHO

“Eu tinha um 'defeito' muito grave (risos), em vez de jogar bola, desde pequeno gostava de trabalhar. Com 10 ou 11 anos, junto com meu amigo Marco Antônio dos Santos, filho do seu Geraldo dos Santos, que era gerente da loja A Modelar, compramos um exemplar do jornal A Cidade e fomos ver os classificados e procurar trabalho. Ele era um ano mais velho que eu. Hoje não pode, não é, mas naquela época era muito comum trabalhar desde cedo. Tirei minha carteira de trabalho com 12 anos. Meu primeiro emprego foi como empacotador no supermercado dos irmãos Cano, onde hoje é o Banco Bradesco”, conta ele.

Em 1957, os irmãos Vicente e João Cano compraram, de Arlindo Massaro, a Panificadora Central, que ficava na esquina das ruas Martinico Prado com a Gonçalves Dias. Eles foram pioneiros. Em 1970 montaram um dos primeiros supermercados de Ribeirão Preto.

“Era um emprego que permitia que estudasse, naquela época. Aos domingos, o supermercado servia pizza no final do expediente. Tinha uma padaria e eles colocavam pizza para assar no forno. Era uma delícia. Depois, junto com os outros empacotadores, todos da minha idade, íamos ao centro, nos cines Plaza, Suez, São Paulo, Pedro II e depois veio o Bristol. Mais tarde fui ser office boy do meu pai, que tinha uma empresa nos Campos Elísios e então me perguntou se gostaria de trabalhar com ele”, lembra o ministro.


A VILA TIBÉRIO

França viveu muito tempo na Vila Tibério. Depois de morar na Luiz da Cunha foi para a Conselheiro Dantas, próximo ao Lanches Bicão. Tinha muitos amigos que estudavam no Sinhá Junqueira. Seu primeiro terno, aos 15 anos, foi comprado nas Confecções Pedro. O avô o levava para ver jogos do Botafogo toda quarta-feira à noite e nas tardes de domingo.

“Tem uma coisa que ficou na minha memória. Tinha um amigo do meu avô, que morava ao lado da Funerária Baldocchi, na Martinico Prado, que tinha um Aero Willys e uma grande bandeira do Botafogo. A gente ia com aquela bandeira gigante desfraldada pelas ruas, torcendo desde casa até o Estádio Santa Cruz, na Ribeirânia. Isso é inesquecível para mim”, conta França.


FAMÍLIA

Quando a família de Carlos Alberto Franco França veio de Goiânia, o pai montou uma loja na Luiz da Cunha quase esquina com a Castro Alves. Depois começou a fabricar e a loja acabou ficando pequena. A loja funcionava onde era a sala de casa. Aí, o senhor José Nazareno França arrumou um salão na Rua Buarque, perto da avenida Costa Silva. Com espaço maior ele montou uma pequena indústria têxtil.

França foi casado por 15 anos e tem dois filhos, Antônio e Ana Clara, com 19 e 17 anos. Tem duas irmãs, a Rita, que é advogada e mora em Ribeirão Preto; e a Andrea, casada com um coronel da reserva da Força Aérea, que mora em São José dos Campos, e são pais da afilhada Bruna França Capuano.

Dois de seus sobrinhos vivem em Ribeirão: Pedro Henrique, economista do Banco Ribeirão Preto, e Isabela, que é publicitária.


BRASÍLIA

Em 1982 foi para Brasília. Passou no vestibular da UnB - Universidade de Brasília - onde cursou Relações Internacionais e, em seguida, Direito. Estudou na UnB por 8 anos consecutivos.

Em 1990, foi aprovado no concurso para o Instituto Rio Branco (a Academia Diplomática Brasileira) e ingressou no Itamaraty.

Em 1992, após concluir a graduação no Instituto Rio Branco, iniciou carreira e tornou-se diplomata do serviço exterior brasileiro. Em dezembro de 2019, foi promovido a Embaixador.

Como diplomata de carreira, serviu por 12 anos consecutivos no exterior, de agosto de 99 até agosto de 2011, em diversas embaixadas: ficou três anos e meio na embaixada do Brasil em Washington, nos EUA, três anos na embaixada brasileira em La Paz, Bolívia, dois anos em Assunção, na embaixada do Brasil no Paraguai, e depois retornou a La Paz, onde serviu por mais três anos e meio.

O filho Antônio nasceu nos Estados Unidos e a filha Ana Clara na Bolívia: "A vida de diplomata é assim”, diz ele.

Em 2015, ele publicou o livro “Integração elétrica Brasil-Bolívia: o encontro no rio Madeira”, texto adaptado à leitura pública de tese defendida por França no Instituto Rio Branco. A obra trata das parcerias na área de energia firmadas entre Brasil e Bolívia nos anos 1990, o que permitiu a implantação do GASBOL, gasoduto de mais de 3.000 km de extensão, e analisa a perspectiva de exploração binacional dos aproveitamentos hidroelétricos do Madeira.

Especialista em temas de energia, França integra o Conselho de Administração de Itaipu Binacional.

Apesar de ter feito o ensino superior em Brasília e vivido no exterior, os vínculos com Ribeirão são nítidos: França é advogado inscrito na seccional da OAB desta comarca, e é eleitor da 108ª Zona Eleitoral de nossa cidade.


SINHÁ JUNQUEIRA

“A Vila Tibério evoca profundas lembranças, olho para trás e parece que foi ontem que eu andava por aquelas ruas do bairro. Eu fui muito feliz, fiz muitos amigos. A Escola Sinhá Junqueira é uma referência em minha vida, pelo ensino público, gratuito e de qualidade que lá obtive”, diz o ministro França.

O Jornal da Vila informou ao ministro que a EE Dona Sinhá Junqueira vai completar 100 anos no próximo outubro. Ele manifestou vontade de participar do evento.

“Se for convidado pela diretoria da escola, terei muita alegria em participar”, afirmou ele.

 

Bar do Tio Camarotto

Ponto tradicional durante mais de 20 anos, na esquina da Luiz da Cunha com a Castro Alves, o Bar do Tio Camarotto foi uma referência na Vila Tibério.

Antônio Camarotto veio de Dumont em 1959 e comprou o ponto onde mais tarde se instalaria o Comind. Depois passou para o outro lado, onde ficou até 1981.

Sempre contando com a ajuda da esposa, dona Hermínia Pereira Camarotto, que abria o bar às 5 horas e já recebia dezenas de caminhoneiros para o café da manhã. O “tio” Camarotto chegava um pouco mais tarde pois atendia até à noite.

Na primeira fase, eram os únicos proprietários do bar e restaurante. Na segunda, o restaurante ficou por conta do amigo Vicente Deserto.

O restaurante chegou a servir até 100 refeições por dia, na sua melhor fase, quando chegavam caminhoneiros de quase todo Brasil para carregar cerveja.

O “tio” morreu em 1997, com 82 anos, e dona Hermínia faleceu em 2003, com 88.

Deixaram os filhos, Osmilda, casada com Olavo Guindalini, com duas  filhas, seis netos e seis bisnetos; Maria Luíza, viúva de José Nazareno Franco França, três filhos e cinco netos; e João Alberto, professor de Engenharia de Produção na UFSCar, casado com a também professora universitária Rosângela Vanali, um filho e um neto.

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