Se em pleno século 21, com o avanço das mais diversas tecnologias em todos os setores da humanidade, estamos assustados com esta pandemia que assola o mundo, imagine uma pandemia nas mesmas proporções há exatamente 102 anos atrás. Era a chegada no Brasil da chamada Gripe Espanhola.
Mudam-se a época, as doenças, porém a história se repete. Se naqueles idos de poucos recursos o mundo conseguiu sobreviver, vamos conseguir sair desta também. Sobre a tal Gripe Espanhola, que de espanhola não tinha nada, não se sabe ao certo de onde veio. Existem duas versões, uma que era “made in USA” e outra que era “made in China” (olha ela aí novamente).
O nome “espanhola” se deve ao fato de que esta doença tomou enormes proporções durante a Primeira Guerra Mundial e a imprensa espanhola ficou em destaque por divulgar as notícias sobre ela pelo mundo afora. Na época, esta gripe tomou conta de todos os continentes do mundo, principalmente nos países que lutavam nesta guerra.
Sem o recurso da tecnologia da internet atual, as informações sobre a doença eram ocultadas com o objetivo de não abalar a moral das tropas para não demonstrar fraqueza ante o inimigo e não criar pânico na população. Todas as notícias sobre a tal gripe fatal, eram censuradas.
Mas, como a Espanha não participava da guerra, sua imprensa se tornou o “facebook” da época, pois tinha total liberdade para contar ao mundo tudo sobre a doença. E sem fake news. Daí então, por conta da cobertura espanhola, ela passou a ser conhecida como “gripe espanhola”.
Esta praga entrou no Brasil em 1918 e veio a bordo do navio Demerara vindo da Europa. Foi só aqui chegar e se espalhar pelo país, pois no navio havia muitos passageiros que sem saber que estavam infectados desembarcaram em Recife, Salvador e no Rio de Janeiro.
Tão rapidamente quanto a pandemia atual, o vírus foi se espalhando de forma alarmante e mortal. Em meio a muitas especulações políticas e com um certo atraso, como atualmente, foi necessário tomar certas medidas de prevenção. Os parlamentares decidiram que fossem fechados prédios públicos, como do Senado e da Câmara, pois vários locais já estavam sem funcionários para atender a demanda burocrática.
Logo, os hospitais não davam conta dos inúmeros infectados e as escolas também foram fechadas e foi aconselhado o uso de máscaras pela população. A seguir, o governo foi praticamente obrigado a tomar algumas medidas sociais. Entre elas, a aprovação automática dos estudantes sem a obrigação dos exames finais e, mais importante, ampliação de prazo para pagamento das dívidas, pois a maioria do povo estava sem trabalho.
No Rio de Janeiro, a coisa começou a ficar sem controle e sucessivamente em grande número de outras cidades.
Houve colapso no sistema de saúde e muitos morreram porque não tinham acesso a tratamento. Não havia uma rua onde não houvesse uma casa onde uma família inteira já tinha se contaminado. Eram colocados panos pretos nas portas das casas onde havia contaminados. As mortes eram muitas e ai surgiram as curas milagrosas que chegaram ser anunciadas até pelos jornais. Receitas de balas feitas com ervas de purgante e água tônica de quinino eram as dicas para combater e prevenir a gripe.
O perigo era, se não pela gripe, poderia morrer de diarreia. E as farmácias aproveitando da situação aumentavam os preços sem limites desavergonhadamente. Foi preciso que o governo desse um basta e tabelasse os preços. Parece até que estamos em um “dèjá vu” (expressão francesa que significa “já visto”, ou tipo um “flashback”).
E a doença se propagava não respeitando títulos ou posição social. Em 1918, o recém eleito presidente Rodrigues Alves também não escapou e contraiu o vírus, isso antes de sua posse e assim seu vice, Delfim Moreira, assumiu interinamente o país esperando sua recuperação. Mas, ele não resistiu e morreu em 1919 e uma nova eleição fora de época foi marcada.
Voltando as curas milagrosas, a melhor delas partiu de São Paulo, pois supostamente foi assim que surgiu a nossa famosa caipirinha. Na cidade corria a notícia que uma mistura caseira de cachaça, limão e mel fazia milagres contra a gripe. Resultado, o limão sumiu do mercado.
Em São Paulo foram 66 dias de confinamento. Também, como acontece atualmente, aconteceram muita politicagem, o isolamento, uso de máscaras, nada de aglomerações e o futebol parou. Outro repeteco nesta história. No Rio, o jogo que daria ao Flamengo o título de Campeão Carioca, foi adiado por dois meses.
Resumindo, já naquela época o Brasil viveu horrores com a Gripe Espanhola. Um cenário de filme de terror com cadáveres jogados nas ruas atraindo urubus, falta de coveiros, famílias com medo de contaminação deixavam os corpos fora das casas e por conta disso, muitos foram enterrados em covas coletivas.
No Brasil, oficialmente, foram registradas 35 mil mortes. Mas, vamos pensar positivo agora. A Gripe Espanhola foi a primeira grande pandemia do século 20 a desafiar a ciência médica e, assim como veio, ela se foi numa época em que nem antibióticos para a doença existiam. O mesmo aconteceu com a Peste Negra, no século 14, e mais recentemente com a gripe suína.
Portanto, Xô Corona, você também vai passar e vamos sair dessa situação mais fortes e, assim espero, mais humanos e solidários.